OUTRO OLHAR
"Pessoas", bom dia!
Ao som do pêndulo do tempo nesse recolhimento involuntário, quando a pandemia grassa sobre nós e faz de cada segundo uma eternidade, eu pensava: de repente, todos, fomos chamados a encenar peças, a nos tornar personagens de livros, a nos compor em notas de canções dos ritmos distintos, respectivamente, num cenário, numa escrivaninha, numa pauta para o acervo universal. Ainda, com o devido respeito àqueles que sofrem a dor da perda de seus entes queridos, em modestas reflexões eu extraía daí evidências do verdadeiro sentido da igualdade social. Sem poupar o humilde ser que mal encontra refúgio na choupana ou o provável sucessor ao trono no Palácio da Rainha, covid-19 a todos faz iguais no atingir esse e aquele com seus efeitos nefastos. Ao lado de tal assombroso poder do vírus em circulação, eu via que mui providencialmente ele resgata nesse e naquele a consciência de pertinência comum, induzindo ao consequente desejo do exercício da humildade, da solidaridade e de tantos mais valores humanos, os quais há muito vêm sendo crescentemente reprimidos, quase esquecidos. Finalmente (e se era sonhar, que eu não desperte) visualizava ao final dessa crise de saúde de escala mundial que teremos corações mais brandos, convencidos de que a crença no sermos melhores que os outros, convenhamos, constitui-se mal negócio; é investir em artes de ficção sem beleza, sem enredo, sem musicalidade. Cuidemo-nos.
Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 26/03/2020
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