- Como e quando resultam seus escritos?

É pergunta que mais uma vez me foi feita, da qual pudesse eu me pouparia. No entanto, a questão não seria relegada ao vazio. Portanto, novamente, sem desmerecer o ímpeto da indagação ou me delongar com detidas reflexões, respondi.

"Nas mais das vezes, com o sol, põe-se o dia, que se deita e adormece; cobrem-lhe umbrosas horas na noite fria. Nelas, uns repousam; para outros, bem-vindo é esse momento em que lhes sobeja a tenência do ócio. Há aqueles que aí reprisam angústias e, depressivos, revisitam suas mais tristes lembranças, sem apiedar de si mesmos. Já, o poeta subverte; na benfazeja companhia do silêncio noturno, é quando reencontra o tempo em harmonia com o talento fértil. Rege-se pelo oscilar dos pêndulos e, remindo o volteio dos ponteiros com prazer artístico, escreve ... E, escreve, quiçá, até o amanhecer.

Inspiração é noturna e boêmia; recalcitrante e indisciplinada, permite-se embalar noctívaga, vigilante, sem cochilos, sem se deixar sucumbir pela fadiga.

Um autor sempre terá do que discorrer; capta no ar temas que a mente gestará em retalhos de letras, de palavras e de orações, até forjar sentido aos períodos, aos capítulos, aos textos para lhes dar vida em forma de versos ou de prosas. Tenha-lhe alguém revelado o que sente, toma-o por pretexto para pôr-se a redigir. Tal não ocorra, falte-lhe de quem ou do que dizer, mesmo assim, transpõe-se aos universos da ficção e se apodera de veios inspiradores quaisquer, num simples exercício de imaginação bastante para desenvolver do nada um tudo que virá conceber. Quando se dá conta, há farto subsídio sobre o que se deter.

Ainda em instantes diurnos, igualmente, ideias e capacidade de abstração nunca serão escassas à sensibilidade artística, que a todo instante é capaz de se estimular, criar e abastecer o autor com temas ricos à produção literária.

Escrever é fácil e infinita é a gama de assuntos a se explorar; local, hora, objeto e formato dita o coração".