A ATRIZ PRINCIPAL
Acomodaram-se em um dos sofás da biblioteca. Ela recostou a cabeça em seu colo. O dia de atividades exaustivas para ambos já era findo; encontravam àquele momento, no lar, tempo e paz, atmosfera temperada para dedicar atenção um ao outro. Ao término dos acordes da autoria de Johann Sebastian Bach, "Jesus, Alegria dos Homens", ele lhe disse: "Conviesse-lhe, tomaria um livro e dele, um conto de amor, para lê-lo ... na primeira pessoa!". Ela assentiu; pôs-se a ouvi-lo.
"Descerradas as cortinas, foi bem a calhar o papel interpretado pelo par estelar da peça "Memphis", espetáculo em cartaz na Broadway que assistimos em 4 de setembro! É certo que, em mesmo dia desse mês, há muito tempo, seu "sim" não se deu precedido de tamanha dramaticidade, comparado ao que sujeitou-se o personagem Huey no referido musical para obter a resposta aguardada. Mas, foi a data que me arrebatou do Teatro Shubert ao consagrado instante, diante do altar, em que iniciamos nossa exclusiva temporada de sucesso, da qual destinos e corações não cogitam de nos distanciar. Naquele florescer, em que o amor se deixou tanger, tudo começou; a primavera nos pediu a mão e se declarou eterna. E o elenco se estendeu: hoje, mais dois atores contracenam conosco no "show", que continua. Mas, voltemos ali, a poucos passos de "Times Square" , onde, ao som de "gospel", "blues" e "rock'n'roll" ditando o ritmo do espetáculo que evoluía no palco, outras cenas se sucediam em minhas recordações. Silencioso e com a alma de joelhos, eu, o ator coadjuvante, agradecia a beleza e a aromática essência com que você enriquece o jardim que juntos cultivamos há 35 primaveras. A propósito, quatro dias após termos contribuído com as estatísticas de audiência no epicentro das emoções da Ilha de Manhattan, ofereço-lhe um beijo carinhoso, tendo como pretexto a data de seu natalício. Parabéns! Aos votos de existência longa, com alegria e saúde, aproveito para reiterar que, face a quaisquer cenários da vida, reservarei sempre assento em camarote privilegiado para admirar suas apresentações, e ao fim me por de pé para lhe aplaudir, efusivamente, porquanto a elegi a atriz principal ... digo, única, até que, no culminar da carreira, as cortinas se nos cerrem. Por ora, em nosso tranquilo recato, o prazer convida à gala e nos põe ladeados como se em um pomar fôssemos incões. Feliz Aniversário, meu amor!" Ele depositou o livro, ainda aberto, sobre a mesinha lateral, fechou a janela e correu as cortinas. Ela, abstraída dos demais pensamentos, beijou-o e mergulhou em sonhos.
Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 08/09/2011
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