Esboçou o inevitável sorriso ao ouvir seu nome e as palmas em sua homenagem.

Antes, acreditava-se inalcançável pelo menor gesto benévolo da sorte. Mais precisamente, cria-se refém de sua própria, absoluta e irremediável desventura, fadado, portanto, ao fracasso. Assim pensando e descrente de esperanças, decidiu que a partir de dado instante ignoraria suas obrigações diárias: não mais executaria os deveres de casa e os cadernos com os livros simplesmente reuniria a seus brinquedos.

Tomado de sonhos pueris, imaginou-se protagonista de um programa de auditório, ao qual intitulou "Você É Capaz de Responder?", e se pôs imediatamente ao preparo. Na motivada dedicação, recorria ao material didático que havia removido das estantes da biblioteca, para acondicioná-lo nos compartimentos do cômodo da casa destinado ao lazer. A meta era vencer a qualquer preço os demais concorrentes ao valioso prêmio, que, no seu imaginário, seria concedido diante das câmaras, em horário nobre, aos olhos dos telespectadores, no concebido programa.

A projetada data da "apresentação televisiva" do personagem em apreço foi antecedida pelos dias dos exames finais  - e reais -  escolares. As limitações que lhe constrangiam no aprendizado das diversas disciplinas curriculares foram inconsciente e imprevisivelmente superadas. Agora, ao ser referido naquela cerimônia de formatura, radiante e em meio aos aplausos, ouve na voz do Diretor de seu estabelecimento de ensino: "Aprovado ... com laudas. Parabéns!"