Minha Ilha Paradisíaca

Página dedicada aos dos Santos, aos Matta, aos Machado e aos Alencar Aranha.

Textos

VAMOS LÁ
Não me veria circulando nos camarotes da Avenida Sapucaí, em suas arquibancadas não estaria, nem me surpreenderia, de bexiga na mão, em traje de Clóvis no meio da multidão.

Mas, em tanto que espetáculo, o Carnaval, admito, é um momento realmente extraordinário. Admiro muito os veios artísticos de que o ser humano é dotado, e esta grandiosa festa reúne considerável número de gênios das mais variadas vertentes. Apreciam-se naqueles dias maravilhosos trabalhos no campo da música, das cores, da coreografia, etc., capazes, na sua magia, de atrair, de envolver e de  provocar a interação do público, inclusive de turistas procedentes dos quatro cantos do planeta.

O evento tem também seu lado lúgubre, com a ocorrência de vidas ceifadas, de lares dilacerados, da disseminação no ar de pós não tão brancos, de odores da contravenção, da insana lascívia promíscua; e por aí vai. Seria esta a verdadeira razão de ser tal período igualmente dito "o reinado de momo"? Definitivamente, sou desprovido de tendência e de aptidão para práticas e prazeres sinistros. Entretanto, creio não ter sido este o propósito da instituição da festa. É possível que o Carnaval tenha sido concebido inicialmente como uma oportunidade para que coletivamente o cidadão desse vazão a sua alegria; e, quem sabe, para que se valesse dele com o fim de expurgar as tensões acumuladas nos 360 dias anteriores do ano; nos cinco salvos, esqueceria suas neuras, vestir-se-ia de fantasia e sonharia ser rei.

Embora assim, ainda não me dou por satisfeito; sonho um carnaval que ofereça algo mais. Proponho que toda a energia daquele momento e uma parcela substancial dos recursos arrecadados naquela época sejam revertidos em prol da maioria que dá brilho à passarela: a massa popular de baixo poder aquisitivo. Desfile de mudanças para melhor (gradativas, concordo) entrará em cena, por exemplo, quando a cada edição do referido espetáculo às favelas e aos bairros pobres dos quais se compõem as escolas de samba vencedoras forem agraciados com um projeto que realmente faça diferença no dia a dia de seus habitantes, contemplando: segurança, saneamento básico, iluminação, educação, serviços cartoriais, assistência médica e jurídica, recreação, atividades culturais, etc.

O sambista merece muito mais do que cinco ou dez segundos de ilusiva fama diante das câmaras de televisão; é um indíviduo economicamente ativo, cuja atuação gera divisas e motiva outras atividades que causam impacto positivo nos cofres públicos. Se o enredo incorporar aquele mote de caráter social, toda a sociedade será grata, o governo ganhará com a exportação de uma imagem mais digna e, por seu turno, o mundo reconhecerá no Brasil um país mais justo, vendo assim algo mais a aplaudir, além dos ritmados movimentos da bela mulata.

Então eu porei meu bloco na rua!
Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 20/01/2010
Alterado em 25/03/2012
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