Minha Ilha Paradisíaca

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Textos

CRIMES, CARTAS & CHOROS
Nestes momentos em que a sociedade testemunha capitulos marcantes que se inscrevem na História do Brasil, para meu registro e para a reflexão de quem ainda não teve acesso, reproduzo carta (em resposta àquela que igualmente, abaixo, transcrevo) enviada por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa em 10.10.2012 e publicada hoje, dia 11 de outubro de 2012, no BLOG DO NOBLAT:

19h10m
Política
Resposta de uma brasileira à Miruna Genoíno

"Embora solidária com seu sofrimento, como uma das cidadãs a quem sua carta é dirigida, não posso me furtar a respondê-la com muita franqueza.

Estranho seria se você, que teve um pai amoroso e que vê esse pai ser um avô dedicado e apaixonado por seus netos, não o defendesse.

Mas pare e pense: você acredita mesmo que nossa Imprensa odeia o governo Lula apenas porque esse cidadão era um operário? Você realmente acha que todos os membros da Imprensa nacional são aristocratas que odeiam a plebe? Será que você não se lembra da força e da torcida da maior parte da Imprensa pela anistia e do prazer com que ela relatou a volta dos exilados?

É à Imprensa, aos seus jornalistas e repórteres, que devemos, em grande parte, a maior parte, aliás, a queda da Ditadura. Se nossos jornalistas não encampassem a luta contra os militares, nós ainda estaríamos sob seu jugo.

Ainda há alucinados que gritam Selva! Mas veja você que a grande Imprensa não lhes dá guarida.

Seu pai cometeu um grave erro: seguir cegamente uma ideologia e acreditar que o PT seria o partido certo para implantar essa ideologia. E não perceber que estava seguindo dois homens que tinham um interesse apenas: o poder pessoal. A qualquer preço.

Você já se perguntou para que eles queriam esse poder? Convive com eles? São homens probos tal qual seu pai? Vivem vida simples e regrada como seu pai e sua família? Eles se dispuseram a inocentar seu pai, confessando, em juízo, que ele foi vítima de um esquema tenebroso?

Não lhe passa pela cabeça que seu pai foi muito ingênuo?

Sinto muito pelo seu sofrimento. Mas penso que sua carta deveria ser destinada ao Lula e ao José Dirceu.

Atenciosamente,

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa"

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Enviado por Ricardo Noblat -
10.10.2012
| 14h55m
Política
Carta aberta aos brasileiros da filha de José Genoino

"A coragem é o que dá sentido à liberdade

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.

Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas...

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?

E sigo...

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...

Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?

Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.

Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino"
Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 11/10/2012
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